Projeto EcoH₂O

Monitoramento Popular da Água - Uma iniciativa de ciência cidadã para garantir água de qualidade para todos. Desenvolvido por estudantes do IFBA Campus Irecê, o projeto utiliza reagentes naturais como repolho roxo para monitorar parâmetros como pH, cloro residual e matéria orgânica na água consumida pela população.

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Sobre o Projeto EcoH₂O

Introdução

O Projeto EcoH₂O – Monitoramento Popular da Água surgiu a partir da criação de uma Estação Flutuante de Monitoramento, desenvolvida para a Semana Nacional de Ciência e Tecnologia (SNCT), com o intuito de compreender como a poluição afeta os oceanos e de que forma a ciência pode contribuir para sua preservação.

A estação, construída com garrafas PET recicladas e equipada com reagentes naturais, identificava alterações na qualidade da água por meio da mudança de cor, representando uma forma simples e sustentável de observar fenômenos químicos ligados à poluição hídrica.

A partir dessa experiência, o grupo idealizou o kit EcoH₂O, uma versão doméstica e acessível da estação, capaz de avaliar a qualidade da água utilizada no cotidiano. O projeto busca democratizar o monitoramento hídrico, promover a educação ambiental e reforçar a cultura oceânica, reconhecendo que toda água poluída nos rios e nas cidades, inevitavelmente, chega ao mar.

Contexto e Problema

Durante a pesquisa realizada no Instituto Federal da Bahia (IFBA) – Campus Irecê, verificou-se que, embora 90,2% dos entrevistados afirmem receber água tratada, 45,1% não confiam em sua qualidade. Esse dado revela uma significativa desconfiança da população em relação aos serviços de saneamento básico e evidencia a necessidade de maior transparência e participação social nesse processo.

O EcoH₂O surge, portanto, como uma ferramenta educativa e prática, permitindo que cada cidadão realize testes simples em sua própria residência, compreendendo melhor os parâmetros que indicam a potabilidade da água.

Metodologia e Sustentabilidade

O uso de reagentes naturais, como suco de repolho roxo, chá de hibisco, vinagre diluído e iodo, demonstra uma preocupação com a sustentabilidade e a segurança química, evitando substâncias tóxicas e valorizando recursos acessíveis.

O formato modular do kit, com a realização de testes mensais (pH, cloro residual e matéria orgânica), favorece o acompanhamento contínuo e o desenvolvimento de hábitos de monitoramento ambiental. Essa dinâmica contribui tanto para a educação científica quanto para a conscientização ecológica, estimulando o senso de responsabilidade coletiva sobre a qualidade da água consumida.

Desafios e Próximas Etapas

O projeto também apresenta desafios que devem ser considerados para o aprimoramento de suas futuras etapas:

  • Padronização dos testes, uma vez que reagentes naturais podem apresentar variações de coloração
  • Parceria com órgãos públicos de saneamento para validar os procedimentos
  • Logística de distribuição dos kits e reagentes mensais
  • Formação educativa contínua dos participantes

As próximas etapas envolvem realizar uma entrevista com o órgão público de saneamento da cidade e criar um formulário para que os cidadãos possam solicitar o Kit EcoH₂O. Os kits seriam distribuídos gratuitamente à população, com novas remessas a cada trimestre ou semestre.

Conclusão

O Projeto EcoH₂O mostrou como a ciência e a sustentabilidade podem caminhar juntas na busca pela preservação da água. Com o kit doméstico, o monitoramento se torna acessível à população, promovendo educação ambiental e participação social.

Sua implementação demonstra o potencial transformador das práticas de monitoramento popular e reforça o papel da educação científica como ferramenta de conscientização e transformação ambiental.

Kit EcoH₂O - Monitoramento Doméstico

Itens do Kit

Frasco de Coleta

Frasco de 250mL transparente para observar mudanças de cor ou turbidez na água coletada para análise.

Indicador de pH

Suco de repolho roxo para verificar se a água é ácida ou alcalina através da mudança de coloração.

Indicador de Cloro

Alga seca ou solução de fécula de batata para detectar cloro residual presente na água tratada.

Indicador de Matéria Orgânica

Solução de iodo ou vinagre diluído para detectar poluição orgânica através de reações químicas visíveis.

Acessórios

Mini funil, colheres medidoras, cartão de instruções visuais e caderno de registro para anotações sistemáticas.

Material Educativo

Tabela de referência da água segura e selos mensais para acompanhamento contínuo da qualidade da água.

Funcionamento Mensal

Mês 1 – Teste de pH

Utiliza suco de repolho roxo ou chá de hibisco para indicar o nível de acidez ou alcalinidade da água através de mudanças de coloração características.

Mês 2 – Teste de Cloro Residual

Verifica a presença de cloro, reagindo com iodo para indicar se há excesso ou falta do desinfetante utilizado no tratamento da água.

Mês 3 – Teste de Matéria Orgânica

Avalia possíveis sinais de poluição doméstica utilizando vinagre diluído e iodo para observar alterações que indiquem resíduos orgânicos.

Mês 4 – Repetição e Comparação

Os testes são repetidos, permitindo comparar resultados e analisar variações entre diferentes pontos de coleta ao longo do tempo.

Estimativa de Custo

O custo estimado para produção de cada kit completo é de aproximadamente R$ 50,50, incluindo todos os componentes necessários para quatro meses de monitoramento:

  • Frasco 250 mL: R$ 4/unidade - recipiente transparente para coleta e observação
  • Mini funil + colheres medidoras: R$ 3/unidade - acessórios para manuseio seguro
  • Cartão de instruções visual: R$ 2,50/unidade - guia ilustrado com interpretação
  • Caderno de registro: R$ 4/unidade - para anotações sistemáticas dos resultados
  • Reagentes naturais para 4 meses: R$ 30/unidade - conjunto completo de indicadores
  • Embalagem segura e transporte: R$ 7/unidade - proteção e logística de distribuição

Também está sendo considerada uma versão básica com materiais essenciais + 1 mês de reagentes por R$ 15 a R$ 25,00, tornando o projeto ainda mais acessível à população.

Entrevista com Vicente de Paula Dourado

Conexão entre Prefeitura e o Projeto Ecos do Mar - Diálogo sobre qualidade da água e saneamento básico

No dia 21 de outubro de 2025, nós, do grupo Ecos do Mar, recebemos no IFBA Campus Irecê a visita de Vicente de Paula Dourado, representante da Prefeitura Municipal. O encontro teve como objetivo apresentar o nosso projeto EcoH₂O e compreender melhor a relação entre a Prefeitura, a Embasa e os cidadãos no que se refere à qualidade da água e ao saneamento básico.

Durante a visita, mostramos o funcionamento do protótipo de monitoramento da qualidade da água, desenvolvido pelo grupo como parte do projeto Ecos do Mar. O dispositivo tem como proposta permitir que a população acompanhe, de forma acessível e educativa, a qualidade da água que consome.

Ao conhecer de perto a iniciativa, Vicente demonstrou grande interesse e fez questão de destacar a relevância do trabalho:

Vicente de Paula Dourado conhecendo o projeto EcoH₂O no IFBA Campus Irecê
"Eu achei muito interessante essa preocupação de vocês e a capacidade de desenvolver um aparelhinho tão simples, mas com uma utilidade e importância enormes. É um projeto que mostra engajamento, consciência e vontade de transformar a realidade. Vocês estão desenvolvendo algo que pode trazer benefícios reais à população, e isso é digno de reconhecimento. Quero conversar com o município e, posteriormente, também com a Embasa sobre o projeto. Boa parte das perguntas eu consegui responder, e as demais orientei para o órgão responsável, no caso, a Embasa. Fiquei muito satisfeito em ver jovens interessados em criar um mecanismo capaz de medir a qualidade da água que a população consome. Tenho certeza de que as pessoas vão apoiar e abraçar essa ideia, porque o acesso à água limpa e segura é um direito de todos. Continuem nessa luta, e contem com o nosso apoio dentro das nossas condições. Acredito muito na força de iniciativas como essa, que nascem do interesse coletivo e do desejo de fazer a diferença."

A visita foi marcada por diálogo, incentivo e troca de conhecimentos, reforçando o compromisso do grupo Ecos do Mar com a ciência, a sustentabilidade e a participação popular na busca por um futuro mais consciente e saudável para todos.

Integrantes do grupo Ecos do Mar ao lado de Vicente de Paula Dourado

Integrantes do grupo Ecos do Mar ao lado de Vicente de Paula Dourado durante a visita ao IFBA Campus Irecê, apresentando o projeto EcoH₂O e discutindo sobre qualidade da água e saneamento básico na região.

Entrevista com a Embasa

Gerente da Divisão de Operação Água da Embasa em Irecê fala sobre tratamento, desafios e conscientização hídrica - Visita técnica e diálogo sobre saneamento básico

Durante uma visita técnica à Embasa, o grupo Ecos do Mar, do IFBA Campus Irecê, responsável pelo projeto Estação Flutuante e Eco H₂O, realizou uma entrevista com o Gerente Thiago Vasconcelos para compreender o funcionamento do saneamento básico e o tratamento da água na cidade.

O grupo apresentou a proposta do projeto, explicando que ele nasceu a partir da criação de uma Estação Flutuante de Monitoramento, desenvolvida durante a Semana Nacional de Ciência e Tecnologia. O objetivo era estudar a qualidade da água e conscientizar a população sobre a preservação dos recursos hídricos.

"Nós fizemos uma pesquisa no campus e descobrimos que, embora 90% dos alunos afirmem receber água da Embasa, 40% não confiam totalmente na sua qualidade", explicou Eduarda Almeida. "Com o Eco H₂O, queremos devolver essa confiança, permitindo que qualquer pessoa possa testar a água que consome em casa de forma simples e acessível."

A professora responsável Vivian Santana complementou que o projeto faz parte da Semana Nacional de Ciência e Tecnologia e que os alunos criaram reagentes naturais, como o chá de repolho roxo, capazes de identificar contaminações na água com materiais recicláveis e de baixo custo, promovendo a educação ambiental e a cidadania.

Processo de Tratamento da Água

Questionado sobre as etapas do tratamento, o gerente explicou com detalhes o processo completo realizado pela empresa:

"As etapas variam conforme o tipo de manancial. Em poços, adicionamos apenas cloro para eliminar micro-organismos. Já nos superficiais, como rios e barragens, o processo é completo: floculação, decantação, filtração, cloração e fluoretação. O cloro é obrigatório por lei, e o flúor é essencial para a saúde bucal das crianças, sendo um importante complemento para a saúde pública."

Monitoramento da Qualidade

Ao falar sobre o monitoramento da qualidade da água, ele destacou o rigor do controle realizado pela empresa e os múltiplos níveis de verificação:

"A cada duas horas fazemos análises na Estação de Tratamento, verificando pH, turbidez, cor e teor de cloro. Também coletamos amostras diárias em diversos pontos da cidade para garantir que a água chegue às casas dentro dos padrões de potabilidade. Além disso, a Vigilância Sanitária realiza coletas independentes e envia amostras ao Laboratório Central de Saúde Pública (LACEN), em Salvador, como forma de fiscalização externa e complementar. Esse trabalho conjunto assegura transparência e segurança na qualidade da água distribuída à população."

Escassez Hídrica e Conscientização

Quanto a escassez hídrica, Thiago Vasconcelos foi enfático sobre a importância da conscientização e das medidas adotadas pela empresa:

"A primeira medida é conscientizar. Se há crise, é preciso economizar. Hoje enfrentamos escassez em parte da região de Irecê, mas estamos controlando com o sistema adutor do Rio São Francisco e perfuração de novos poços. A qualidade, porém, nunca é comprometida. Cada real investido na água é um real economizado na saúde pública, demonstrando a importância do saneamento básico para o desenvolvimento social."

Comunicação e Educação

Sobre a comunicação com os cidadãos, ele citou o trabalho social da empresa e as estratégias de aproximação com a comunidade:

"Temos uma assistente social, Ana Karina, que coordena ações educativas em escolas e comunidades. Em períodos de crise, reforçamos com reuniões, carro de som, informativos digitais e presença direta nas localidades. Essa aproximação faz diferença na construção de uma relação de confiança com a população."

Tratamento de Esgoto

Em relação ao tratamento de esgoto, ele explicou o processo completo e a infraestrutura disponível no município:

"A Embasa coleta o esgoto e o leva às estações de tratamento. Em Irecê, temos cinco unidades e estamos construindo uma central maior. O processo envolve gradeamento, caixas de areia, decantadores e leitos de maturação, onde bactérias e o sol ajudam na decomposição. O efluente tratado é devolvido ao meio ambiente em condições seguras, com análises semanais que garantem o cumprimento das normas ambientais."

Práticas Sustentáveis

Quando perguntado sobre práticas sustentáveis, o coordenador destacou o avanço da empresa em termos de eficiência energética e redução de impactos:

"Usamos válvulas redutoras de pressão em áreas com muito vazamento e 80% da energia consumida pela Embasa já vem de fontes renováveis — solar e eólica. Isso reduz custos e impactos ambientais, alinhando nossa operação com os princípios da sustentabilidade e responsabilidade ambiental."

Reaproveitamento de Água da Chuva

Sobre o reaproveitamento da água da chuva, ele esclareceu as limitações legais e técnicas da empresa:

"A legislação não permite que a Embasa trabalhe com águas pluviais. Podemos apenas captar, tratar e distribuir água potável e tratar esgoto. Em residências, o uso é viável, mas em larga escala seria economicamente inviável pela baixa constância das chuvas na região, que caracteriza nosso clima semiárido."

Educação Ambiental

A entrevista também abordou o trabalho educativo da empresa e sua importância para a formação de cidadãos conscientes:

"Temos um calendário anual de visitas e palestras em escolas públicas. Durante a Semana da Água e no projeto Amigos do Viveiro, falamos sobre consumo consciente e preservação dos recursos hídricos. Tudo começa na educação, que é fundamental para construirmos uma sociedade mais sustentável e responsável."

Confiança na Qualidade da Água

Questionado se a população poderia confiar na Embasa, o coordenador respondeu com firmeza sobre a transparência dos processos:

"Com certeza. Todas as análises estão detalhadas na conta de água, mas muitos olham apenas o valor e esquecem o relatório. Lá constam os parâmetros, as coletas e os resultados. Trabalhamos com seriedade e transparência, seguindo rigorosos protocolos de qualidade que garantem água segura para o consumo."

Principais Desafios

Sobre os principais desafios do saneamento no município, ele destacou as questões hídricas e de conscientização:

"O maior desafio é a escassez hídrica. Desde 2018 enfrentamos longos períodos de seca, mas estamos avançando com a ampliação da adutora do São Francisco e novas estações de tratamento. Outro problema é a conscientização — ainda há quem não ligue sua casa à rede de esgoto, o que é ilegal e prejudica o meio ambiente. Cuidar da água é cuidar da própria saúde e do futuro das próximas gerações."
Thiago Vasconcelos durante entrevista com o grupo Ecos do Mar
"A água não é um bem infinito. Dois terços do planeta são cobertos por água, mas a maior parte não é potável. Precisamos valorizar o que temos. Cada vazamento, cada desperdício, afeta todos. Hoje, 35% de toda a água tratada é perdida — e boa parte por vazamentos não comunicados. Viu um vazamento? Avise à Embasa. Cuidar da água é um dever de todos, uma responsabilidade compartilhada que garante nosso futuro comum."

Após a entrevista, Thiago Vasconcelos direcionou o grupo até o Laboratório, onde Vanessa Souza - Bacteriologista e Josenilton Teixeira - Coordenador do laboratório, receberam e apresentaram o funcionamento do mesmo, demonstrando os rigorosos controles de qualidade realizados periodicamente.

Grupo Ecos do Mar com equipe da Embasa no laboratório
"Confiem no trabalho da Embasa. Nosso compromisso é garantir água de qualidade, com responsabilidade e respeito pela vida. Cuidar da água é cuidar do futuro, e essa é uma missão que levamos muito a sério, investindo em tecnologia, capacitação e transparência para servir cada vez melhor à população."
Thiago Vasconcelos - Embasa 2025